


Olhos à prova de lágrimas e decepções por Xico Sá
Umbigada, again
− Você me quer bem feia para que ninguém mais me queira! − ela pula do salto para o nocaute.
− Ridículo esse pensamento, ainda bem que até teu umbigo estão esquecendo de pôr no mesmo canto, só assim compreendes os meus sermões, ingrata.
− O umbigo é meu e eu cuido disso, ninguém nem reparou que lá, no cantinho dele, não estava, só tu, disgramado ciumento até do vazio da existência.
− Se é que ainda tem umbigo mesmo, deixa eu ver, vem cá, levanta a blusa, devem ter aspirado na última lipo.
− Idiota − ela diz, rindo, levantando a blusinha com o charme de sempre.
Meu Deus, que colosso, que regalo, ê, lá em casa, será que é sonho meu Menino Jesus de Praga?
− Vou te proibir de ver meu corpo sem ser aqui no lar doce lar, porque essa coisa de amor está é matando minha beleza lá fora − danou-se de novo ela. − Você tem que me aceitar perfeitinha do jeito que eles querem, poxa!
Sim, o pior é que ela adorava, com ou sem umbigo, com ou sem sinal de vacina, sair lindinha nas revistas e nos sites. Fez até publicidade e propaganda, anúncio de varejo nos jornais de domingo, Atacadão das Telhas. Benza Deus, como ama um aparecimento!
− Agora, sim, fiquei do jeito que tu gosta! − ela veio, enxerida, com o encarte. − Gostosona de construção
mesmo, rainha do andaime!
Taí, gostei da foto, quase sem retoque, só fizeram uma rechapinha no cabelo, deram mais uma alisadinha na minha Sonia Braga, é do jogo, mas, deixa ver, deixa eu reparar direito, quase não tem defeito...
− Nunca fui tão feia na vida, nunca saí tão horrorosa, baiana, sabia que ia amar essa desgraça, seu merda!!!
− Linda demais da conta, Nossa Senhora, pela primeira vez tive orgulho de te mostrar aos amigos da firma!
− Vai se arrombar você e todos esses baianos de merda!
− Calma, minha natureza humana, já, já arrancam teu umbigo fora de novo e usam só o teu rosto.
− Quer dizer que sou tribufu, gorda, e só aproveitam sem retoque a cara?
− Não digo é mais nada.
Sim, ela tem um rosto de anjo, meio safado, mas angelical mesmo, gosto de tudo, mas com essa parte eu alucino.
Enfim, não digo é mais nada, como na minha primeira cantada, repito "se você fosse um hambúrguer seria meu X-Princesa", chega de treta, dane-se o moço do Photoshop, você é o meu sonho, meu ideal, o resto é o seu trampo, entendo, foi mal, vou cegar de vez pro seu corpo, de agora em diante meu desejo é em braile, no paralelo, mesmo com a luz acesa, dane-se, só acredito no que amo e no que pego/esfrego, é duro entrar numa história apenas com dois olhos bem abertos à prova de lágrimas e decepções. O resto é um mundo inventado.
{Talvez ande meio Maxista nos últimos dias.... Mas achei lindo os questionamentos de beleza do Xico Sá. Homens aprendam!}